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Entrevista: Se as forças armadas de Maduro disserem “não vamos fazer”, acabou o governo

 Venezuelanos cruzando a fronteira por vias alternativas
Ricardo Moraes / Reuters/Folhapress

Pesquisador e professor de Relações Internacionais analisa os cenários possíveis para a crise no país latino-americano

23/02/2019 – 07h00min
Atualizada em 23/02/2019 – 07h36min

O coordenador do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, que participou da Conferência sobre Segurança, em Munique, encerrada no dia 17, surpreendeu-se com a ausência de países sul-americanos no evento, o principal sobre geopolítica global.

O tema da Venezuela foi onipresente, mas nenhuma autoridade regional estava lá. Em outras palavras, a crise que pode levar à derrocada do regime de Nicolás Maduro estava sendo discutida por generais e líderes civis de EUA, China e Rússia. Na entrevista a seguir, ele traça cenários possíveis para a Venezuela e como um eventual conflito na região pode desestabilizar o continente.

O que pode acontecer neste sábado na Venezuela?

Os militares brasileiros deixam muito claro que não existe a ideia de atravessar a fronteira. Minha expectativa é de não haverá muita tensão na fronteira com o Brasil. Na fronteira com a Colômbia, tudo depende das forças armadas venezuelanas. O grande desafio para Maduro é evitar uma situação na qual ele precise pedir algo oneroso às forças armadas e elas simplesmente digam: “Não vamos fazer isso”. Algo que as forças armadas tenham de dizer: “Estamos com você, mas o que você está nos pedindo é algo que, para nós, é muito complicado”.

Dê um exemplo?

Atacar caminhões que estejam entrando no país com produtos humanitários, com venezuelanos já obtendo acesso a ajuda, uma confusão na fronteira, uma situação difícil, que possa exigir que as forças armadas reprimam violentamente muitas pessoas, várias das quais possam ser estrangeiras. Uma situação em que as forças armadas possam ver riscos, custos, onde possa haver confronto com tropas estrangeiras. Maduro quer evitar ao máximo alguma situação que possa gerar o risco de as forças armadas dizerem: “Não, a gente não vai fazer”. Nesse momento, acabou o governo.

Como a questão da Venezuela foi discutida na Conferência sobre Segurança de Munique?

O tema surgiu o tempo todo. Foi um debate estranho porque havia americanos falando com alemães, franceses, espanhóis e canadenses. Todo mundo falando sobre a Venezuela sem nenhuma participação sul-americana. Isso simboliza como a região se tornou irrelevante sobre a questão venezuelana. Representa o fracasso da política brasileira. De longa data. O Brasil tinha como objetivo “cuidar da região”. Isso era visto pelos Estados Unidos como algo muito positivo. O Brasil claramente..

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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