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Volta de Trump à Casa Branca seria boa notícia para Putin e Xi Jinping (Estadão)

https://www.estadao.com.br/internacional/colunas/volta-de-trump-a-casa-branca-seria-boa-noticia-para-putin-e-xi-jinping-leia-analise/

Segundo mandato de Trump produziria mudanças globais mais duradouras e poderia representar fim da OTAN

As eleições presidenciais nos EUA em novembro de 2024 representam o mais alto risco político da atualidade. Trata-se do pleito mais imprevisível desde a Segunda Guerra Mundial, com elevada probabilidade de imprevistos: presumindo que Biden e Trump se enfrentarão novamente – cenário mais provável neste momento –, um dos dois pode ter que desistir no meio da campanha por motivos de saúde: Biden tem 80 anos, Trump 77. Outro cenário é que, considerando o número de processos contra Trump, o ex-presidente seja preso meses antes das eleições, causando uma situação sem precedentes. Para complicar ainda mais as circunstâncias, o sistema eleitoral arcaico e a ausência de uma justiça eleitoral como a brasileira nos EUA aumentam o risco de tensão e violência política. Em uma sociedade extremamente polarizada, teorias conspiratórias — como a de que Biden teria fraudado as últimas eleições — são amplamente difundidas entre eleitores de Trump. Se este for derrotado, é praticamente certo que não aceitará o resultado. Não ajuda o cenário mais provável de uma eleição extremamente apertada.

Por fim, diferentemente de significativa parte das oito décadas desde a Segunda Guerra Mundial, hoje não há um consenso mínimo entre os Republicanos e Democratas em relação aos pilares da política externa norte-americana. Em eleições passadas, líderes dos dois principais partidos em Washington podiam discordar sobre questões específicas, mas não colocavam em dúvida os elementos-chave da estratégia internacional dos EUA, como o compromisso de Washington com a OTAN. Nas eleições de 2024, porém, tudo estará em jogo: enquanto uma vitória de Biden representaria a continuação da atual política externa americana, é provável que a volta de Trump à Casa Branca levaria a mudanças muito mais profundas do que durante seu primeiro mandato de 2017 a 2020. Isso porque, quando assumiu o poder pela primeira vez, Trump inicialmente apostou em quadros mais experientes, que conseguiram frustrar muitas das ideias mais radicais do presidente, como lançar mísseis contra cartéis de drogas no México ou alterar ilegalmente o resultado das eleições de 2020 para se manter no poder. Os quadros mais radicais, ao mesmo tempo, desconheciam a máquina pública e muitas vezes não sabiam como implementar medidas mais drásticas.

Se vencer o pleito daqui a um ano, o cenário seria diferente: Trump muito provavelmente evitaria nomear integrantes do mainstream republicano e logo apostaria em representantes da ala trumpista de seu partido, que ganharam experiência executiva durante o primeiro mandato do magnata. Além disso, enquanto Trump enfrentou uma resistência ferrenha, dentro do seu próprio partido, de quadros moderados como os senadores John McCain e Mitt Romney, a ala moderada se enfraqueceu: McCain faleceu em 2018, e Romney já anunciou que não buscará a reeleição no ano que vem. Numerosos deputados Republicanos anti-Trump, como Adam Kinziger, deixaram a política. Por fim, mesmo se…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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