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Quem ganha e quem perde se Trump voltar à Casa Branca (Estadão)

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Vitória do ex-presidente seria festejada em Moscou e Buenos Aires e causaria preocupação em Kyiv, Berlim, Teerã e Caracas

Governos mundo afora estão começando a considerar um cenário que, a se julgar pelas recentes pesquisas eleitorais, se torna cada vez mais provável: a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos no próximo 5 de novembro. O retorno do ex-presidente à Casa Branca teria profundas consequências globais. Afinal, apesar do deslocamento de poder para a Ásia, os EUA ainda são a nação de mais influência geopolítica do planeta. Além disso, embora o país já não tenha o mesmo peso econômico que tinha algumas décadas atrás, sua vasta influência política e cultural segue intacta: tendências que tiveram origem nos EUA, como o trumpismo, a cultura woke e movimentos como Black Lives Matter e MeToo, impactam debates políticos globais como as de nenhuma outra nação, e não há dúvida de que a volta de Trump inspiraria candidatos parecidos em diversos países.

Vale lembrar que Trump tem uma visão de mundo muito distinta da de Joe Biden: enquanto o consenso pós-1945 em Washington foi de que os EUA devem manter presença militar na Europa para garantir estabilidade no velho continente – inclusive para evitar a ascensão de uma potência hostil aos Estados Unidos, como foi o caso da Alemanha nazista –, Trump prefere um posicionamento mais isolacionista e já sugeriu que retiraria os EUA da OTAN em seu segundo mandato. Os principais perdedores, portanto, seriam a União Europeia e a Ucrânia, a qual depende da ajuda militar americana para se defender da invasão russa.

Cético em relação ao sistema multilateral que estruturou as relações internacionais ao longo das últimas décadas, Trump parece preferir um arranjo informal no qual grandes potências têm suas respectivas zonas de influência: sinaliza, por exemplo, que está mais aberto à narrativa de Putin de que a Ucrânia faz parte da zona de influência russa. Da mesma forma, Trump defende explicitamente a Doutrina Monroe, articulada pelo ex-presidente americano James Monroe em 1823, segundo a qual os EUA detêm direitos e responsabilidades especiais na América Latina – ideia frequentemente utilizada para justificar intervenções nos assuntos internos de países da região. Trump já defendeu, por exemplo, intervir militarmente no México para combater cartéis de drogas no país vizinho, embora isso dificilmente passe de estratégia eleitoral. Em 2019, descreveu uma intervenção militar na Venezuela como “uma opção” para derrubar o presidente Nicolás Maduro, proposta rejeitada pelas Forças Armadas americanas. No entanto, Trump muito provavelmente reverteria…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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