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Resultado das eleições taiwanesas representa grande derrota para Xi Jinping (Estadão)

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Vitória de William Lai em Taiwan sugere que ameaças de Pequim foram contraproducentes

Os eleitores taiwaneses, em um ato corajoso de resistência contra ameaças explícitas do governo de Xi Jinping, elegeram presidente Lai Ching-te, conhecido no Ocidente como William Lai, candidato mais favorável à independência de Taiwan. Durante a campanha, o governo de Pequim havia feito de tudo para evitar a vitória de Lai, descrevendo-o como “grave perigo” e alertando Taiwan que se tratava de uma “escolha entre a paz e a guerra” e “a prosperidade e a recessão”. Além disso, a China inundou Taiwan de fake news para reduzir o apoio ao Partido Democrático Progressista (DPP), agremiação de Lai com a qual Pequim se recusa a dialogar. Para completar, o exército chinês fez manobras militares perto da ilha para intimidar Taiwan, e o governo de Xi Jinping aumentou tarifas sobre uma série de produtos taiwaneses, sinalizando que poderia impor sanções mais amplas se Lai vencesse. 

É possível que as medidas chinesas tenham surtido algum efeito. O Kuomintang (KMT), partido preferido por Pequim, obteve 52 assentos no parlamento taiwanês, um a mais do que o DPP. Isso lhe dará poder de bloquear iniciativas do novo presidente, que assumirá em maio. Porém, o saldo das ameaças cruas de Pequim foi provavelmente negativo para a China: afinal, reduz ainda mais a confiança dos taiwaneses em Pequim, já fortemente abalada desde que o governo de Xi Jinping violou a promessa de respeitar a legislação local em Hong Kong depois de a cidade voltar a fazer parte da China em 1997. Como a repressão em Hong Kong aumenta ainda mais, os taiwaneses suspeitam que a reunificação com a China teria consequências devastadoras para a democracia de Taiwan, uma das mais vibrantes e consolidadas do mundo.

A retórica agressiva de Pequim tem também o potencial de acelerar ainda mais a formação de uma identidade nacional taiwanesa, distinta da chinesa: como demonstra a invasão russa à Ucrânia, nada unifica mais um povo que uma ameaça externa. Para muitos jovens taiwaneses, por exemplo, que cresceram em um regime democrático e próspero, onde zombar de políticos faz parte do debate público, a perspectiva de viver sob um regime comunista que censura até mesmo piadas leves sobre o presidente Xi Jinping é motivo de pânico.

O que mais surpreendeu na retórica chinesa foi o amadorismo na comunicação bruta e deselegante do governo em sua tentativa de influenciar o voto taiwanês. Enquanto as interferências russas nos debates…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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